domingo, 27 de dezembro de 2015

EU, FILHA DE SOBREVIVENTES DO HOLOCAUSTO

Eu, filha de sobreviventes do holocausto, de Bernice Eisenstein. O tema do holocausto não se esgota. A cada nova leitura, é possível perceber formas, nuances, meandros de uma história que pode e deve ser contada e recontada, sob diversas lentes e contextos. Esse contar e recontar fortifica a memória, numa tentativa de fazer com que não nos esqueçamos do ocorrido, para que algo semelhante jamais volte a acontecer.

O livro de Eisenstein não tem a cara de uma autobiografia. Trata-se de uma narrativa que enreda a vida da autora e a vida de seus pais, tendo como fio, nessa tecitura, a Segunda Guerra Mundial e toda a sua atrocidade. 

A surpresa, no caso deste livro, fica por conta do modo com que se narra a vida de uma filha de pais sobreviventes do holocausto. O que é ser filha de alguém que esteve em um campo de concentração? O que sente, o que pensa, como se vê e como vê aos seus tendo essa marca tatuada na alma? 

A autora, que também ilustra o livro, dá ao texto um caráter leve. Algo do tipo: "sente-se aqui que vou te contar uma história minimamente curiosa!" E assim, como bons leitores, sentamo-nos ao lado da autora e começamos a ler/ouvir sua história, mergulhando nas suas ilustrações e amenizando as dores das feridas da vida através de uma certa acidez e um humor peculiar ao texto. 

Penso que esse humor tenha vínculos diretos com a alegria hassídica: mesmo onde o trágico teima em existir e se perpetuar, que tal pensarmos na vida com alegria? É mais ou menos assim que compreendi essa obra. 

Seu valor, ao meu ver, não se concentra apenas no teor histórico, mas numa lição de vida. O que fazemos de nossas vidas, como lidamos com nosso passado, como são nossas relações com os outros e com o nosso mais íntimo pensamento? Quem somos? Acho que essa é a grande pergunta que me fiz ao terminar o livro: quem sou? De onde venho? Por que tenho esse nome? O que de mim, hoje, é reflexo do meu eu de ontem? 

E assim, busco plenitude no agora, deixando o porvir me surpreender, como tem sido nos meus 39 anos de vida!

Recomendo a leitura!
A todos, meus abraços.
Wagner Dias.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

O TREM DOS ÓRFÃOS

O trem dos órfãos, de Christina Baker Kline. Realidade e ficção dão o tom dessa narrativa. A partir de uma realidade vivida por crianças na década de 1930 - crianças órfãs, transportadas por trem, através dos Estados Unidos da América, teceu-se uma rede que consagra o diálogo entre presente e passado, fazendo com que o leitor reflita sobre as possibilidades de futuro. 

Christina Baker Kline tem uma escrita fina e sabe como enredar os assuntos, épocas e personagens. O livro que conta a história de Molly (2011) e Vivian (década de 1930 a 2011) permite ao leitor montar as peças de um belíssimo quebra-cabeças.

O mote é genial. O texto é doce, leve e sensível. A leitura é fluida e instigante. O mais marcante, talvez, seja a concepção de destino abordada pela autora. Como num livro, como em seu próprio livro, as coisas da vida se enredam magicamente. 

Dor, amor, solidão, resiliência, resignação, força são algumas das palavras que poderiam definir esta obra. Recomendo o livro para quem gosta de boas histórias e pretende, a partir delas, repensar a sua própria construção histórica. 

O futuro neste livro, é uma incógnita. Talvez de modo proposital. Passamos a vida pensando em futuro e, de repente, quando lemos histórias de quem mal consegue viver o presente, sem vislumbrar um dia a mais, conseguimos dar conta de que viver bem o presente pode ser uma boa alternativa para uma vida harmoniosa. Ainda que esta harmonia seja consigo mesmo.

O trem dos órfãos é sensibilidade do início ao fim!

Lindo livro! 

A todos, meus abraços.
Wagner Dias.

domingo, 22 de novembro de 2015

PARA SEMPRE ALICE

Para sempre Alice, de Lisa Genova. Se há uma palavra que possa definir esta leitura, tal palavra é sensibilidade. Que o livro aborda o Mal de Alzheimer não é nenhum segredo. O que quero dizer é que a forma como a doença é retratada é que nos toca. 

O livro é muito bem escrito, numa sequência cronológica que nos apresenta, paulatinamente, o drama de Alice Howland, professora universitária que aos 50 anos de idade, descobre ter a doença já citada. 

A autora soube descrever com detalhes toda essa trajetória, através de um texto fluido e direto que está mais interessado em mostrar como é a vida de quem sofre com a doença e a vida de quem circunda esse doente. Tudo isso sem estereótipos e sem a linguagem fria e seca da ciência. 

Embora eu tenha lido uma tradução, a forma com que a escrita se constrói nos dá uma pequena prévia do que é não conhecer alguém, do que é saber o que se quer falar e não conseguir articular as palavras. É possível perceber que a perda da consciência, da memória, tende a nos desestabilizar e a nos colocar à margem do mundo.

Trata-se de uma bela reflexão sobre o hoje e o tempo que temos, mais que uma preocupação com o tempo que nos resta. Uma lição de vida. Lição de vida presente! Alice consegue viver cada minuto de sua vida da melhor forma possível, mesmo convivendo com a demência.

É impossível ler este livro sem se comover. Em algumas partes, lendo em voz alta, confesso ter chorado. Tentei me colocar no lugar de Alice e, com essa tentativa, um mundo se desvela. O mundo do viver da melhor forma possível a vida, antes que sejamos surpreendidos pelo passar do tempo ou antes que sejamos acometidos por algum mal. 

Li o livro que tem a capa do filme... (Sim, este livro virou filme!). Isso, infelizmente, me irritou muito, pois não tive liberdade de construir imageticamente a minha Alice, com base nas descrições da autora, descrições essas que nada têm a ver com a foto da atriz que interpretou Alice no cinema. 

Acho uma falha brutal das editoras publicarem obras literárias com capas de filmes, quando essas capas nos revelam rostos, e detalhes que, enquanto leitores, gostaríamos de descobrir pelas palavras. Vou colocar aqui a foto original do livro, que para mim é muito mais significativa e bela.

Recomendadíssimo! 
Meus abraços,
Wagner Dias

O PINTASSILGO

O Pintassilgo, de DonaTartt. Trata-se de um extenso romance (719 páginas em Português / Companhia das Letras) que a partir de reflexões sobre o que é a obra de arte apresenta uma junção de elementos que se enredam para construir a história de Theo Decker, o personagem principal da narrativa.

A história prende o leitor e, talvez, esta seja uma das habilidades de Tartt. Por mais prolixa que seja a obra, o leitor se vê dependente da leitura, desejando saber qual será o próximo evento, que destino está reservado ao protagonista. Claro que essa prolixidade se torna excessiva no decorrer da narrativa e, confesso, provoca um certo cansaço. Mas a autora mantém sua linha de escrita até o final. 

Embora seja um texto delicado, com escrita requintada, eu não o classificaria como um clássico, como foi considerado por alguns críticos. Também não sei o porquê deste livro ter ganho o prêmio Pulitzer. Acho que não é para tanto. Contudo, o que me encantou na obra foi a delicadeza das imagens construídas por Tartt. Não me pareceu um livro de inspiração pura. Pareceu-me uma obra pensada, com roteiro de escrita construído, o que o leitor poderá perceber com o desfecho da obra. Tartt é genuína ao demonstrar com detalhes, conhecimento sobre arte, música, informações que ampliam horizontes para o leitor.

Acho que a logística de construção de Theo Decker, o protagonista, é muito coerente e o final da obra cumpre com o que a narrativa apresenta a cada página virada. Para quem se incomoda com leituras que abordam o submundo das drogas, é  preciso que saiba que O Pintassilgo apresenta este universo em minúcias, com uma clareza tão evidente que chegamos a pensar que, ou a autora usou as drogas que aparecem na obra, ou fez um brilhante trabalho de pesquisa para construir seu livro. 

A narrativa surpreende. Dona Tartt sabe como dar reviravoltas na história e quando o leitor começa a imaginar um destino, ou desfecho, ela vira o jogo, a mesa, coloca outras cartas na jogada e outra curiosidade se inicia. 

É um bom livro. Embora eu não o considere um clássico. Algumas passagens são cinematográficas e parecem ter sido construídas para a lente de uma câmera e não para as páginas de um livro. Isso não desmerece em nada o poder criativo da autora.

Portanto, se você se encorajar a encarar as 719 páginas de O Pintassilgo, no mínimo você viverá fortes emoções!

Meus abraços,
Wagner dias

domingo, 25 de outubro de 2015

TODA LUZ QUE NÃO PODEMOS VER

Toda luz que não podemos ver, de Anthony Doerr. Busquei esse livro pela temática da Segunda Guerra Mundial. Esse tema me atrai por algum motivo. Foi uma grata surpresa. Quando se pensa que tudo já foi dito sobre aquele período negro e que as narrativas sempre terão os mesmos caminhos, encontramos um texto surpreendente, rico em minúcias, em imagens. Uma junção da dureza fria da guerra com a sensibilidade de histórias que se cruzam: Werner e Marie-Laure. Ele, um jovem alemão, e ela, uma menina cega que nos engrandece com suas palavras e ações.

Se não bastasse a riqueza das personagens, o livro possui uma engenharia muito interessante. Impossível não se sentir fisgado desde as primeiras páginas. Anthony Doerr, premiadíssimo com este livro, soube escrever essa história de modo inteligente e tocante.

Não espere dessa obra uma narrativa lugar-comum sobre a Segunda Guerra. Espere mais. Espere um mistério que gira em torno de um diamante e que alinhava toda a trama! Trata-se de um belo quebra-cabeças, recheado de cenas fortes, de música, de vida. Trata-se de um livro que aguça nossos sentidos e que, a cada página lida, desperta a vontade de ir além, de saber mais. 

No meio do livro, começamos a nos questionar como o autor arranjará o final. E este é muito coerente, rico e sem máculas. O livro é preciso. Provavelmente um trabalho muito bem pensado, tanto em termos técnicos (questões de física) assim como as aproximações com outras obras literárias e a organização das ações da narrativa..

Conseguimos ver, através do texto de Doerr, algo a mais que o mero bem e mal. Conseguimos ver onde a humanidade se equaliza. Lindo livro. 

Recomendadíssimo! 
A todos, meus abraços,
Wagner Dias.

sábado, 10 de outubro de 2015

EU SOU O MENSAGEIRO

Eu sou o mensageiro, de Markus Zusak. Cheguei a esta leitura após ter conhecido A menina que roubava livros, do mesmo autor. Fiquei curioso para saber se a escrita que tanto me satisfez em A menina que roubava livros estava presente em uma outra obra de Zusak. Ao pesquisar sobre Eu sou o mensageiro, percebi que o mesmo fora publicado antes de "A menina...". 

Em Eu sou o mensageiro, não senti a força de um bom enredo, nem a força de uma história que prenda o leitor. Eu diria que é um livro leve, para quem deseja se divertir e esquecer dos problemas do cotidiano, sem ter a pretensão de ler uma boa literatura. O livro distrai! E só. Não achei que o título tenha sido uma boa escolha e, para um leitor atento, a revelação feita no final, se faz já nas primeiras ações da trama, nas primeiras mensagens! 

Li até o final pois nunca desisto de um livro. Há bons momentos na trama. Mas acho que depois das primeiras mensagens, o livro faz uma barriga e cansa um pouco. Zusak tenta criar um suspense, um jogo de adivinhações que não são muito convincentes e tornam a narrativa frágil em alguns pontos. Algumas das mensagens são tão "água com açúcar", ou com um sentido tão...vazio que não justificam suas presenças na obra. 

Mas o personagem principal é cativante. Acho que a leitura se faz até o fim, porque passamos a torcer por Ed. Kennedy, o jovem protagonista! Acho que jovens irão se divertir com o vocabulário, com os romances e com a vida dos personagens. 

Eu esperava uma história forte e intensa, como em A menina que roubava livros. Comparar, no entanto, uma obra coma outra, não é uma boa tática. Prefiro ficar com as boas impressões da trama de "A menina...". Contudo, pretendo ver outras obras do autor para ter uma opinião mais contundente.

Para finalizar, repito: se quiser se divertir e espairecer, leia Eu sou o mensageiro! Mas não espere mais que isso!

A todos, meus abraços!
Wagner Dias.

domingo, 27 de setembro de 2015

ONDE NASCEM OS VENTOS

Onde nascem os ventos, de Brian Payton. Bom, como começar a falar deste livro? (...) Costumo ser bastante sincero em minhas observações. Costumo ler rápido e nunca abandono um livro pela metade. Fiz o mesmo com este! Li até o final! Quando o adquiri, o fiz pelo tema da II Guerra Mundial, que me fascina! O início é muito interessante e prendeu minha atenção. Acho que a história poderia ser a do personagem principal e seu amigo soldado. 

Não quero dar muitos detalhes para não incomodar aqueles que queiram ler. Mas acho que o autor peca pela falta ao desenvolver de modo muito superficial a relação dos personagens principais, o que acaba deixando no ar a dúvida: valeria a pena tantos sacrifícios por um tipo de amor que não nos foi narrado tão pulsante? 

Fiz um certo esforço para terminar a leitura, acreditando que o final me surpreenderia. Não surpreendeu! Achei que com a passagem dos capítulos a leitura fosse me fisgar. Não fisgou. Mas, sejamos justos, há passagens muito bem escritas, com cenas muito fortes e que nos tocam. Mas o enredo em si deixa a desejar.

Acho até que a história é boa, mas a forma com que foi narrada acaba por depreciá-la. Não sei se o fato de ter lido uma tradução tenha me provocado essa sensação não muito agradável. Contudo, ler é isso: deparar-se com coisas boas, coisas maravilhosas, com coisas nem tão maravilhosas assim...

Porém, para quem trabalha com jovens, com leitura, ter contato com um pouco de tudo vale a pena. Vou ainda tentar buscar outras obras do autor e ver se seguem a mesma linha, numa tentativa de reverter meu conceito sobre seu estilo de escrita! 

No mais, deixo aqui meus abraços!
Wagner Dias

O PEQUENO PRÍNCIPE

Com a onda do novo filme que teve estreia no início do segundo semestre de 2015, fiz minha quarta leitura de O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry. Não escondo de ninguém meu fascínio por esta obra que guarda tantas conotações. 

Muitos insistem em destinar esta leitura ao público feminino, ou classificá-la como livro de miss. No entanto, isso não é suficiente para que essa obra-prima da literatura se perpetue. E ela vai seguindo sua eternização literária com o passar das décadas, já podendo, na minha modesta concepção de leitor, ser considerada um dos grandes clássicos da humanidade. O livro não é só para as meninas, muito menos é um livro de miss. 

A narrativa é repleta de reflexões que colocam à prova o que são as relações do homem consigo mesmo e com o mundo, as vaidades, as responsabilidades, o amor, a amizade... E esses são temas que nunca deixarão de existir na literatura. Contudo, o que faz com que esta obra seja tão peculiar? Talvez a pureza com que as palavras são utilizadas. Talvez a simplicidade do olhar sobre o mundo. A simplicidade é rica! Sempre gostei das coisas simples, da forma simples de comunicação, forma esta que cumpre sua missão: comunicar! 

Sempre que releio este livro, algo novo é descoberto e a minha própria vida é redesenhada. As palavras do Principezinho motivam a desenhar cobras que engolem elefantes ou carneiros dentro de caixas. Como sempre digo: olhares das possibilidades! Para quem nunca leu, fica a dica: leia! Não dá para passar por este mundo sem ter contato com esta obra. Para quem já leu, releia! Há muito a ser revisitado.

Há hoje no mercado uma infinidade de edições que vão desde as mais simples e de baixo custo às mais ricas e caras. Tenho algumas edições. Mas, não importando qual seja, permita-se sentir. Permita-se experimentar! Confesso que não sei se "somos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos" (acho um peso grande, uma responsabilidade grande demais, embora em tese seja maravilhoso. Porém, tenho a convicção da importância de cativar e de zelar pelos que amamos!
Meus abraços,
Wagner Dias.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

A FESTA DA INSIGNIFICÂNCIA

A festa da insignificância, de Milan Kundera. Para mim, essa obra se define como sendo paradoxal. Em que sentido? Tentarei explicar. Tive a sensação de que essa leitura não se realiza nas meras linhas do texto. Vai além! As linhas dessa obra tornam-se insignificantes diante do que as entrelinhas permitem. Nesse sentido, posso ousar dizer que Milan Kundera é um gênio! Não apenas por ser um autor aclamado, mas pela destreza, pelo talento, pela eficácia de construir uma narrativa aparentemente simples, ou insignificante, como preferirem, e, dessa forma, conseguir dar a essa insignificância ares de uma festa complexa e repleta de nuances! Festejar o insignificante permite entendermos as profundezas do que nos é significativo. 

O texto essencial e tocante dessa obra está internalizado nos subtextos - nos monólogos interiores - nas reflexões e, até mesmo, nas falas dos interlocutores dos personagens principais. Por que falar da insignificância? Porque, penso, falar do que raramente pensamos permite-nos construir o entendimento daquilo que pensamos ser. É como pedir a alguém para se definir em poucas linhas: numa situação dessa, torna-se difícil criar uma autodefinição que dê margem à exposição das falhas de caráter, dos defeitos, das mentiras que falamos cotidianamente. Temos a tendência a exaltar nossas qualidades. Contudo, enxergar o defeito, pode abrir caminhos para nos entendermos de modo menos interesseiro, menos parcial. Afinal, ser honesto consigo mesmo pode ser mais complexo que ser honesto com o outro! 

O texto é simples! Vocabulário que não exige do leitor grandes esforços. Os capítulos são curtos, as situações retratadas são simples, ou insignificantes, diante daquilo que pensamos ser as coisas complexas e significativas de nossa vida. No entanto, o que o entendimento do umbigo como parte erótica do corpo feminino, se liga a Stalin ou ao direito de nascer? Que relações um falso câncer, ou a divulgação da falsa notícia de um câncer, um coquetel, um idioma inventado e um passeio de motocicleta por Paris pode nos revelar?

É nesse ambiente de simplicidade narrativa e simplicidade de cenas cotidianas que se compõem o mosaico de A festa da insignificância. Creio que não seja um livro para ser lido e compreendido. Ele faz sentido em alguns momentos. Em outros é uma pintura que deve ser contemplada. Refiro-me a algumas passagens como o momento de observação de uma pequena pluma que paira no ar, ou na descrição de uma garrafa de bebida, guardada como um tesouro, ou nas descrição das estátuas do jardim de Luxemburgo, dentre outras muitas. 

Arte! O texto de Kundera neste livro é pura arte. E mexe com o leitor. Se a proposta de um bom livro é esta, tocar o leitor, incomodar, mexer com os nervos, o autor consegue. Não importa se compreendemos todas as nuances do texto. Importa permitir-se mergulhar nessa viagem proposta por Milan Kundera. 

Não tentar entender é um bom caminho para esta leitura. Para quem se sentir desafiado, sugiro ler e tentar desenhar na mente as imagens, os lugares e situações propostas pelo autor. Nesse sentido, posso garantir que o livro é memorável.

Senti por esta narrativa o mesmo fascínio que senti quando li A insustentável leveza do ser - também do Kundera. Aliás, os títulos de Kundera para seus livros são fantásticos. Ter tido contato com essas duas obras deste autor me aguçou a curiosidade de ler outras obras.

Se você entender na totalidade este livro, vamos trocar figurinhas! Quero reler em breve e descobrir coisas que, fatalmente, deixei escapar, por incompetência, por falta de bagagem intelectual, ou displicência! 

A leitura deste livro é um belo desafio! Que tal? 

Deixo aqui meus abraços,

Wagner Dias

quinta-feira, 25 de junho de 2015

EU SOU O ÚLTIMO JUDEU

"Eu sou o último judeu", de Chil Rajchman. Antes de qualquer palavra: um documento histórico. Um relato minucioso das atrocidades cometidas contra milhares de judeus no campo de extermínio de Treblinka (Polônia), no período de 1942 a 1943. Como já deixei claro em outras postagens, o tema da segunda guerra mundial me atrai de modo peculiar. Como acredito em outras vidas, penso ter ter algum elo com esse período. 

Tenho por mania acompanhar as leituras sobre o assunto em foco, sejam elas biografias, textos literários e qualquer informe que me acrescente dados e amplie o meu entendimento do que foi o holocausto. Talvez minha esperança seja, em algum momento, achar um livro, uma frase que me diga: isso não aconteceu! Foi só um pesadelo! Contudo, o horror foi real e o lema de contar, relembrar para que não mais aconteça deve ser diariamente pronunciado. 

O livro de Rajchman, em especial, trouxe-me sensações inusitadas. Primeiro pelo detalhe e zelo nas descrições, que permitem ver claramente, toda a dor e todo o pesadelo vivido pelos judeus no campo de extermínio de Treblinka. Campo de extermínio. Pensar nessas palavras pode nos tocar, causar comoção. Ler em detalhes um relato de um sobrevivente, traz à tona o horror, o medo e o pensamento: como o homem pode ser capaz de ser tão atroz em seus crimes motivados pelo desejo de poder? 

As passagens desta obra são realmente muito fortes. Confesso que cheguei a sonhar com algumas cenas. Refiro-me especialmente às cenas dos dentistas, que, quem ler a obra, poderá compreender em detalhes o porquê de minha angústia. O livro angustia, mas não se consegue deixar de ler. Acredito ser a atração que os sortilégios da morte (lembrando-me de Consoada, de Manuel Bandeira) provoca. A cada novo capítulo, passamos a torcer para que algo de bom ocorra. Vivemos juntos o drama dos judeus de Treblinka. Derramamos juntos as lágrimas, sentimos a dor das chicotadas, o cheiro de morte.

Mas não se assustem com meu relato. São minhas impressões. O livro é muito bom e recomendo sua leitura. O prefácio é muito elucidativo e, acredito, deve ser lido com atenção. No mais, Eu sou o último judeu, é um relato doloroso e cruel de uma face de nossa história que dificilmente será esquecida!

A todos, meus abraços!
Wagner Dias.


sexta-feira, 19 de junho de 2015

DOIS GAROTOS SE BEIJANDO

Dois garotos se beijando, de David Levithan. Este livro estava em uma das prateleiras de leituras destinadas a jovens. Como sou educador, lido cotidianamente com jovens e não excluo nada que possa ser lido da minha vida, acabei me deixando seduzir pela capa da obra em questão. Uma das mais lindas capas que tenho em minha biblioteca. Dois rostos de garotos selando um beijo, num projeto gráfico muito interessante, singelo e poético. A leitura é suave e fluida. Os narradores guardam um segredo que não revelarei, mas que posicionam o leitor, trazendo-o para as reflexões mais duras, porém necessárias no mundo diverso da contemporaneidade.

O livro aborda relações homoafetivas, a beleza do amor entre pessoas do mesmo sexo, os dramas, os medos, o entendimento social sobre o assunto... tudo isso de modo muito delicado, o que não significa ser tratado de um modo leve. Há acidez em determinadas passagens, mas essa acidez é necessária para construir um emaranhado de situações que exigem um tom mais incisivo! O mote: bater o recorde mundial de beijo. Na obra, isso ocorre como forma de protesto! Realmente é possível que o leitor se envolva com as diversas situações e entre na torcida pelo sucesso dos casais e de todos os personagens. Histórias se entrelaçam! Esqueci de comentar! 

Eu não poderia dizer que o final é surpreendente. Na minha singela opinião, não o é. Mas isso é questão de gosto. Numa análise fria, é possível dizer que o autor deu ao seu texto um final digno e necessário. Nem sempre as coisas são como queremos, como escreveríamos, assim como na vida! Mas acho que ficou um desejo de saber um pouco mais! 

Trata-se de uma boa leitura para jovens, leitura essa que, se bem mediada, no contexto escolar, por exemplo, pode, além de ser caminho para a introdução ao universo literário, uma fonte  de debates. A obra se propõe a isso. 

Assim, se você deseja conhecer um universo novo, se você simpatiza com a causa homoafetiva e se você tem coragem de enfrentar o novo, examinando-o com um olhar sereno e livre de preconceitos, leia Dois garotos se beijando. Se não estiver nesta lista de pré-requisitos, leia também. Você precisa ampliar seus pensamentos e sua visão de mundo! ;-) 

A todos, meus abraços!
Wagner Dias 

quarta-feira, 3 de junho de 2015

OS LARGADOS

Os largados, do italiano Michele Serra, é uma leitura surpreendente, terna e ácida. Trata-se do debate entre gerações, sua complexidade e seus constrangimentos. No entanto, diferentemente de outras obras que tratam deste tema, Serra consegue, com uma espécie de humor ácido, prender a atenção do leitor, o qual se identifica ora com o pai rabugento da narrativa, ora com o jovem filho. 

Da lágrima ao riso, Serra consegue discutir o tema do conflito de gerações, criando uma guerra fictícia entre velhos e jovens, que, para mim, é uma das partes mais interessantes e sensíveis da obra. Não contarei o final desta guerra, claro, mas posso garantir que este é um momento repleto de imagens tocantes e também poéticas. 

O livro permite ao leitor revisitar a própria existência de modo a criar reflexões sobre como lidar com outras gerações. A falha está neles ou em nós? A falha é dos jovens ou dos velhos? Dos velhos ou dos jovens? Qual o limite desse dilema? Em que consiste a vida em família? 

Como eu não conhecia nada deste autor, fiquei surpreso com o estilo de escrita, que é bastante criativo, inusitado e que mescla dor e prazer, tristeza e alegria, acidez e doçura em frases simples. Na verdade, a história é simples, é cotidiana. O que dá ao livro o frescor da novidade é a estrutura narrativa.

Trata-se de uma excelente leitura para pais, mães, filhos, filhas, professores, professoras, alunos, alunas...jovens e maduros! E que a arte do encontro se faça na simplicidade!

Recomendo! :-)

Meus abraços,

Wagner Dias

domingo, 31 de maio de 2015

A MALA DE HANA


De volta ao meu tema favorito de leitura! Dessa vez venho falar sobre o livro "A mala de Hana", que tem como temática de fundo a segunda guerra mundial e as atrocidades que envolvem esse período trágico da humanidade. A partir da história de uma mala (de Hana), uma história de buscas e de descobertas se compõe! O livro se divide entre fatos ocorridos na Tchecoslováquia, Tóquio e Canadá. 

A mala - que se encontra em exposição em um centro de estudos sobre o holocausto, em Tóquio - leva Fumiko, a organizadora do centro de estudos, a investigar a vida da pequena Hana. E por aí se constrói a trama. O livro se faz de duas histórias que se entrelaçam e desenham em mosaicos de lágrimas, força e sorrisos os traços mais duros,  ternos e tênues da humanidade. 


Impossível não se comover com a história. Isso justifica a enorme vendagem da obra pelo mundo, seus diversos prêmios e a indicação do mesmo como leitura indispensável para jovens (de todas as idades!). Trata-se de uma leitura fluida, de fácil entendimento, de encaminhamento suave, apesar do tema, e que toca de modo direto e profundo a sensibilidade humana. 

Qualquer violência relacionada com crianças me soam atrozes! Assim, pensar que milhares de crianças foram mortas em nome de um desejo maquiavélico de poder, desperta revolta, dor e reflexões que giram em torno de: a que ponto o homem é capaz de chegar em nome do poder? Quantos sonhos deixaram de ser realizados? Quantas esperanças foram transformadas em cinzas? Hana tinha um desejo: ser professora...

Bom, a leitura é recomendadíssima! Ler, relembrar para que não mais ocorra! Para que nunca mais ocorra! 

Meus abraços,

Wagner Dias

sábado, 30 de maio de 2015

HOMENAGEM A MANOEL DE BARROS


CRÔNICA DOS PÉS DIREITOS


Wagner Teixeira Dias

Para a amiga Helenita Beserra, que me apresentou um poema e para todos os meus alunos do Colégio Estadual Guadalajara, de Duque de Caxias!

         Que a palavra tem força, eu nunca duvidei. Jamais tive dúvidas acerca do poder da literatura, da arte como elemento renovador, transformador. Arte toca nas fendas mais profundas, arte entra pelas crateras das chagas e atinge rapidamente a corrente sanguínea passando pelo coração, cérebro e todo o corpo. Em algum momento ela chega à mente. A palavra também faz esses percursos. De tanto que se fala sobre algo, algo em que se acredita, esse algo vai virando verdade e se tornando vida real e concreta.
         Falar disso tudo é coisa muito diferente de viver isso tudo. E comecei a ter essas vivências logo que uma amiga me apresentou um poema de Manoel de Barros[1] que fala sobre a importância das coisas. O poema indagava: “o que seria mais importante para o cachorro? Um osso ou um diamante?”.
 E após a apresentação do poema, a frase contundente: só nos relacionamos intimamente e com zelo, e com afeto, e com ternura com aquilo que nos é caro, importante. Importante! Essa é uma palavra que se repetia no poema do Manoel de Barros.
         No dia seguinte, modifiquei tudo o que eu faria com meus alunos em sala de aula. Abandonei as orações coordenadas, a estrutura da narrativa e passei o poema no quadro. Prevendo que os jovens reclamariam, fui logo avisando: “hoje vocês vão copiar apenas esse poema. Depois vamos dialogar. Cadernos, canetas, borrachas, lápis... tudo será devidamente guardado nas mochilas e vamos dissecar esse poema. Torná-lo vivo!” Entender algo, para mim, é dar vida!
E assim foi. Os alunos copiaram. Na sequência, sentaram-se em um semicírculo e me olharam com olhos hesitantes, tentando adivinhar o que eu pediria que fizessem. Eles temem as surpresas dos mestres. Ficam tensos. Trata-se daquela tensão que o aluno sente quando não sabe o perigo iminente que pode surgir da fala do professor, tão dono e cheio de si, tão e todo poderoso na regência da turma. E eu comecei a minha tagarelice. Falei da importância das coisas. Falei do zelo, das lembranças, das pessoas que amamos, das coisas que desejamos, de como cuidamos daquilo que valorizamos e de como tentamos proteger as pessoas que queremos bem.
Olhei para as carteiras rabiscadas e, pensando no fotógrafo-artista do poema de Manoel de Barros, mostrei aos alunos que poderíamos simplesmente fotografar uma carteira rabiscada, ou poderíamos ver importância nela. Podíamos ajustar as lentes para olhar para essa carteira, trocar o filtro, colocar mais ou menos cor, dependendo da medida da importância que a mesma tem para nós. Não foi preciso falar muito até que alguém disse, no fundo da sala: “rabiscamos a carteira porque ela não é importante para nós. É isso que o senhor quer ouvir, não é?”.
Acho que no fundo sim, era o que eu queria ouvir. Mas não apenas isso! Eu queria que os alunos compreendessem o que deveria ser a sala de aula para eles. Que não fosse a prisão que muitos desenhavam, nem a droga de sala de aula, repleta de drogas de paredes, cercada por outras drogas de corredores, drogas de salas, drogas de escadas... drogas de professores...
A tagarelice continuou. Evoquei minhas memórias de estudante. E escovei a contra pelo minha história, à Walter Benjamin, e disse aos alunos que um dia fui como eles. Que ainda que meus pais avisassem, eu não conseguia entender o porquê de a escola ser tão importante. Lembrei-me de um professor que me perguntou o que eu queria ser na vida. E eu não sabia o que eu queria ser na vida, todavia eu sabia o que queria ter na vida! Porém, o ter na vida dependeria do ser na vida! E nesse jogo de palavras, de ideias e de memórias, nessa angústia barroca, reconstruí minha história e revisitei o dia em que, após ter concluído o ensino médio, fui ao meu colégio buscar meu histórico escolar.
Lembrei-me de ter saído da secretaria feliz com o papel na mão. Aquele papel que comprovava que eu terminara o ensino médio e que estava apto a ir além – fazer uma faculdade, ou enfrentar o mundo do trabalho. Rememorei a saída da secretaria rumo ao portão. Olhei para trás e senti um vazio. Aquele papel que eu carregava nas mãos era a tesoura que cortava, naquele momento, meu cordão umbilical, meu elo com a placenta-escola. E à medida em que eu me aproximava do portão, um nó na garganta se mostrava vivo.
Eu não ouviria mais o sino, não ouviria as vozes, não sentiria o cheiro da merenda, não pisaria de novo, como aluno, aquele chão. Não teria mais aquela rotina... Como me faria falta aquela rotina!
Ao sair da escola, naquele dia, vi a vastidão do mundo, tal qual o bebê que acaba de nascer e que vê a luz pela primeira vez, que sorve o ar, que se incomoda com os ruídos, que se sente perdido. Eu não sabia para onde fugir e me bateu um desejo enorme de voltar para a escola, de bater com as duas mãos naquele portão e pedir socorro: “abram, por favor, preciso voltar. Não estou preparado para sair. Há muitas coisas que não aprendi! É mais confortável aí dentro. Como vou seguir sozinho?” E então, ouvi a voz do portão: “seu ciclo aqui se fechou! Agora siga!”.
E segui...
De volta ao presente e ao prazer da leitura de Manoel de Barros, percebi-me em sala de aula com alunos diante de mim em um silêncio profundo, mas contemplativo, aquele silêncio que atordoa de tanto barulho que faz. Voltei os olhos lacrimejantes para meus alunos que me ouviam com muita atenção, momento raro. E eu disse a eles: “ao sair daquele portão azul – víamos o portão pelas janelas do segundo andar do prédio da escola – vocês estarão caminhando para a realização dos sonhos. É bom entender que essa realização já começou. Vocês saem daqui, hoje, diferentes de ontem, diferentes do minuto anterior àquele em que pronunciei a palavra “anterior”. Quando saírem daqui, hoje, deem, lá no portão azul, o primeiro passo rumo à mudança de vida”.
Era meio-dia e encerrei a aula. Eles saíram apertando minha mão, com um brilho diferente no rosto. Como eram carentes de palavras! Eu senti que o poema do Manoel de Barros que a mim havia tocado, tocara também suas almas. A última frase do dia: “sua aula foi boa, professor!” E aquela simples frase, pronunciada por jovens de corações feridos pelas agruras da vida soaram como um “hoje fomos amados”! Eu me senti orgulhoso! Enchi meu coração de alegria, paz e esperança. Os alunos saíram, a sala de aula ficou silenciosa, vazia e empobrecida. Apaguei com dor na alma o poema, tão lindo, que estava escrito no quadro e fui guardar meus pertences na bolsa.
Despretensiosamente, ou instintivamente, ou por um empurrão divino, não sei, dei a última olhadela nos alunos que naquele dia tocaram meu coração de um modo ímpar. Lancei, da vidraça quebrada, os olhos no portão azul, lá embaixo. Vi que havia uma lentidão na saída. Aquilo não era usual, uma vez que ir embora era um desejo dos jovens. Havia uma pequena fila. Isso se devia ao tipo de passo que era dado por eles. Um a um, e comentando um com o outro sobre o que faziam naquele momento, eles colocavam para fora da escola, através do portão-portal azul, os pés direitos rumo à realização dos sonhos. Timidamente sorri, não acreditando na cena que via. Torci para que eles olhassem para a janela e me vissem a contemplá-los. O coração bateu mais forte, senti bater na garganta! Nenhum deles olhou para cima. Nenhum deles acenou, nem disse: “viu professor, a gente saiu com o pé direito”! Não precisava! Eu já me sentia realizado. Não deram aqueles passos para mim, mas para eles, como guinada para suas vidas tão plenas de dificuldades. Fizeram por eles. Deram o primeiro passo rumo à vastidão do mundo. Que sejam felizes!
Naquele dia de maio, mais que em outros, a poesia valera a pena!
E segui...
Desejoso de fazer versos...


Rio de Janeiro, 29 de maio de 2015.



[1] O poema aqui citado chama-se Sobre Importâncias
Fonte da foto da postagem: http://www.revistabula.com/2680-os-10-melhores-poemas-de-manoel-de-barros/ (acesso em 30 de maio de 2015)

sábado, 16 de maio de 2015

O CLUBE DO LIVRO DO FIM DA VIDA


O clube do livro do fim da vida, de Will Schwalbe, foi a leitura da semana. Trata-se de uma belíssima história de vida emoldurada por livros. 

Fascinante a ideia de contar parte de uma vida, de seus encontros e desencontros tendo como pano de fundo leituras. O que lemos é, além do que fazemos, parte de nossa marca no mundo. 

Um dia, espero, quando olharem minhas estantes dirão: ele leu isso, marcou tais passagens... é uma forma de eternizar-se. Schwalbe foi muito perspicaz ao relatar os últimos momentos de vida de sua mãe aliando lembranças, desejos, força de vontade e fé a passagens literárias marcantes que vão de autores clássicos como Charles Dickens a autores de livros contemporâneos de auto ajuda. 

O interessante é que não se percebe preconceito com este ou aquele autor, ou com este ou com aquele tipo de texto. Tudo é válido! Esse fato é admirável na obra! Fiz várias marcações de livros que quero conhecer, de pensamentos e reflexões e de lições que trago para minha vida. Vida que é breve e merece ser vivida da melhor forma possível. Mas não nego: é um livro que angustia em certos momentos. Pensar na não existência de quem amamos é um fardo. Mas, como diz Mary Anne, mãe de Schuralbe, tudo é parte da vida! 

Ao contrário do que muitos pensam, ler não nos afasta do convívio social, da vida real. Ler nos aproxima dela, da vida! Recomendo!

Meus abraços,
Wagner.

sábado, 9 de maio de 2015

O DIÁRIO DE ANNE FRANK

"Não quero que minha vida tenha passado em vão, como a da maioria das pessoas. Quero ser útil ou trazer alegria a todas as pessoas, mesmo àquelas que jamais conheci. Quero continuar vivendo depois da morte! E é por isso que agradeço a Deus por ter me dado esse dom, que posso usar para me desenvolver e para expressar tudo o que existe dentro de mim!" (Anne Frank)

E ela conseguiu! Continua viva! Eternizou-se através das palavras! Ela nos ajuda, ainda hoje, a repensar o holocausto e todo o cruel panorama da Segunda Guerra Mundial para que nunca nos esqueçamos do que houve, das atrocidades que o homem é capaz de cometer. Apenas relembrando, poderemos tentar fazer com que coisas do tipo não se repitam!

Muito já se escreveu sobre este livro que eu li há muitos anos e agora revisitei, numa edição linda de 2014, da Editora Record, aqui no Brasil. O livro é lindo. Um dos mais lindos de minha coleção: capa dura almofadada, com fotos e que imita o verdadeiro diário de Anne Frank. 

O que me fascina nessa obra é o posicionamento crítico e as visões emancipadas de mundo que uma menina, uma jovem de 13 anos é capaz de emitir. Seu diário nos mostra o que foi ser jovem, num ambiente de guerra, especialmente se esse jovem era judeu. 

Quando li pela primeira vez, fiquei muito angustiado, mas na última leitura, vi uma Anne Frank muito diferente! Sim, eu mudei com o passar dos anos e a leitura ganhou novo formato! Percebi uma Anne esperançosa, com sonhos, uma garota impetuosa, objetiva e forte, mesmo diante do peso da prisão em que viveu, escondida dos alemães! 

"Vejo o mundo se transformando aos poucos numa selva, ouço o trovão que se aproxima e que, um dia, irá nos destruir também, sinto o sofrimento de milhões. E, mesmo assim, quando olho para o céu, sinto de algum modo que tudo mudará para melhor, que a crueldade também terminará, que a paz e a tranquilidade voltarão. Enquanto isso, devo me agarrar aos meus ideais. Talvez chegue o dia em que eu possa realizá-los! (Anne Frank)

O texto é muito agradável. As cartas são curtas e o leitor sente desejo de acompanhar a próxima etapa, e a próxima, e a próxima... desvendando as transformações de uma menina em mulher, seus dramas vividos no isolamento de um anexo em Amsterdã, onde se escondeu por anos com mais sete pessoas, vivendo com restrições de todas as ordens.

Anne Frank, você vive! Leitura e escrita caminham juntas! 

Livro Recomendadíssimo!

Meus abraços,
Wagner Dias


sexta-feira, 1 de maio de 2015

A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER

Encerrei ontem a leitura de A Insustentável Leveza do ser, de Milan Kundera. Devido à correria da vida, precisei começar e recomeçar a leitura desta obra três vezes. Eu não conseguia me concentrar! Conseguida a proeza de entrar na obra, de estabelecer um contato íntimo com a mesma, a leitura fluiu docemente. Com absoluta certeza, este livro é um dos meus clássicos pessoais. Ficou e ficará marcado na alma. Eu diria que se trata de um soco no estômago no sentido de que, muitas das vezes, complicamos as coisas da vida, tornando pesadas as passagens leves e vice-versa! O livro, que se apoia em fatos históricos, tem uma estrutura narrativa genial! Não é uma leitura linear, faz idas e vindas do passado ao futuro, deste ao passado, com a narração de um observador atento e ciente de todos os elementos da vida dos personagens. Eu me enxerguei em muitas frases, parágrafos e passagens do livro. Não poderia ser diferente. Ele fala de vida! Mas as últimas partes da obra me tocaram profundamente, levando-me às lágrimas. É lindo! Surpreendente, desafiador! Para quem não tem muita experiência de leitura e deseja conhecer este livro, sugiro que não pare a leitura nos obstáculos que ela possa parecer oferecer. Siga em frente e deixe que as palavras os toquem. Elas farão isso! Fatalmente! Espero reler daqui a algum tempo e ver em que medida minhas visões se alteraram e de que modo serei tocado pelas palavras bem colocadas e sabiamente organizadas por Kundera neste manancial de possibilidades e interpretações que se chama A Insustentável Leveza do Ser!
A todos, meus abraços.
Wagner.

sábado, 18 de abril de 2015

A CASA DE CARLYLE E OUTROS ESBOÇOS

Quando comprei o  livro "A casa de Carlyle e outros esboços" minha intenção era conhecer um pouco do universo literário de Virginia Woolf. Minha estante ainda não tinha nada da autora e como vi o livro me conquistando pela capa, acabei comprando. Não li as descrições presentes no exemplar, não abri e levei para casa sem saber que se tratava de um diário (ou parte de um...). 
Na verdade, não consegui conhecer muito da escrita artística de Woolf, mas, sim, comentários tecidos por terceiros sobre a vida e obra da mesma. A casa de Carlyle e outros esboços traz sete textos curtos, páginas de diário, que nos revelam um pouco da mulher Virginia Woolf. Optei por não logo de início os comentários feitos sobra a autora para não me influenciar e, assim,  poder tecer, eu mesmo, minhas próprias considerações. 
A mulher Woolf, me pareceu bastante crítica, ácida com as palavras, observadora, mas com um texto carregado de certa melancolia e cansaço. É como se as coisas, o mundo e as pessoas a cansassem. Não é possível tecer julgamentos sobre os textos sem um contexto específico de quando e em que circunstâncias os mesmos foram escritos. Assim, após a minha leitura, recorri aos comentários presentes na obra, o que permite análises das palavras de Woolf nas datas em que foram construídos e do material humano em que a mesma estava embebida. Como eu gosto de ler biografias, ou conhecer a vida dos autores depois de ler sua obra literária, acho que errei começando por este livro. Mas para quem se interessa por diários e biografias, os textos serão degustados com prazer.
De qualquer modo, é possível chocar-se com certas passagens, com o tom dado às descrições de algumas pessoas e fascinar-se com um tom delicado e feminino que se mescla à firmeza de olhar e decisão que senti ao ler os esboços. 
A todos, meus abraços.
Wagner Dias

quarta-feira, 15 de abril de 2015

VIDAS SECAS

Para dar uma pausa às narrativas de guerra, reli, após mais de dez anos, a obra Vidas secas, do grande escritor Graciliano Ramos. Reler um clássico é sempre um desafio e uma redescoberta. Primeiramente a sensação de saber o que acontecerá. Em um segundo momento, as minúcias e alguns detalhes que em uma primeira leitura passam em branco. Tudo isso se soma à nossa passagem pela vida. Os anos que vagarosamente passam trazem consigo uma série de elementos que modificam nossa visão de mundo e nossa perspectiva sobre as obras lidas. Magnífico! É o que posso dizer de Vidas secas. 
Linguagem regionalista, personagens muito bem construídos e toda a saga de um povo - o nordestino - na luta pela vida e contra a seca. Nunca foi tão atual a obra! Imortalizado nas letras de Graciliano ramos, o livro Vidas Secas mexe com nossos sentidos. É de uma pureza ímpar, de uma força gigantesca que nos causa dor, tristeza, alegria, sorrisos e revolta! Sem dúvida, neste livro encontram-se dois dos mais marcantes personagens da literatura brasileira, sob a minha ótica, claro: Fabiano, o bruto homem de poucas palavras que luta pela vida e a doce cadelinha Baleia. Baleia ganha dimensões infindáveis que a tornam um personagem marcante, cativante e quase humano. Se há uma mensagem nesta obra, tal mensagem é a da esperança, ainda que tudo pareça seco, morto, sem vida! Qual o preço do sonho? Porque lutar por um sonho? Porque vale a pena. Vale a pena acreditar que poder-se-á, um dia, dormir em uma cama de couro cru, abandonando a dura e nodulosa cama de varas! É preciso querer. 
Em linhas gerais, trata-se de um livro fascinante. 
Recomendadíssimo!

Na foto desta postagem, encontram-se ilustrações de Aldemir Martins, feitas especialmente para o livro.

Meus abraços,
Wagner Dias.

sábado, 11 de abril de 2015

O MENINO DOS FANTOCHES DE VARSÓVIA

Já fiz coisas malucas nesta vida! Bem, maluquice também depende dos olhos que a analisa. Para muitos é maluquice beijar e cheirar uma flor, abraçar uma árvore, um livro... para outros... Hoje terminei de ler a obra de Eva Werver, O menino dos fantoches de Varsóvia, mais um livro que tem como mote a Segunda Guerra Mundial. não é segredo para quem acompanha o blog a minha fascinação por este tema. Acredito ter tido uma vida passada e, provavelmente, vivi neste período trágico da humanidade, sendo judeu, soldado nazista ou algo do gênero, tamanha minha fixação pelo assunto. Entendam: tenho pensamentos malucos! Ao terminar de ler o livro acima referido, eu o abracei. É tocante a história, comovente. Nenhum coração sensível seria capaz de não permitir que lágrimas corram do rosto com a narrativa. É uma obra de ficção, mas tão bem estruturada e escrita que chega a parecer real. Tive vontade de abraçar a autora! Já li muitas obras falando sobre a Segunda Guerra, mas este traz um outro lado. Mostra, além da visão dos judeus, alguns pontos da vida dos soldados nazistas que devem ser também analisados. Nada justifica o Holocausto, mas na vida, nem tudo deve ser tomado com radicalidade, ou teremos novas guerras. Há de se ponderar, em tudo. Eva Werver pondera, emociona e nos gruda os olhos no texto promovendo emoção, reflexão e prazer de ler.
Recomendo a leitura de O menino dos Fantoches de Varsóvia! Os traços e marcas deixados pela Segunda Guerra não podem ser esquecidos. Precisamos nos lembrar, sempre, para que não haja repetição!
A todos, meus abraços!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

O MENINO DA LISTA DE SCHINDLER

O menino da lista de Schindler é mais uma obra ambientada no período da Segunda Guerra Mundial. Tenho certa predileção por histórias de guerra e, neste caso, a narrativa se completa por uma gama de emoções retratadas por quem as viveu no contexto de realidade. Trata-se da vida de  Leon Leyson, judeu, o menino que conta como escapou da morte nos campos de concentração graças a Oscar Schindler. O livro se assemelha à própria obra A lista de Scindler, porém, ica focado na vida de Leon e em partes que A lista de Schindler não detalhou. Impossível não se emocionar com as atorcidades da guerra. O fim do livro é muito interessante, pois mostra o que houve com os judeus no pós guerra, fato que muitas das narrativas ambientadas no períodoaqui retratado deixam de contemplar. É um bom livro para jovens leitores, principalmente para aqueles que gostam de História. O livro, realizado a seis mãos (Leon Leyson, Marilyn J. Harran e Elisabeth B. Leyson) é um convite ao entendimento do que foi o holocausto e que cicatrizes foram deixadas élo terror promovido pela xenofobia. Apesar da dureza do tema, a sensibilidade com que a história é contada contagia e faz com que o leitor queira, a cada página virada, encontrar respostas para suas inquietações! Um belo livro! Um documento histórico! Recomendo!
Meus abraços!

sábado, 10 de janeiro de 2015

COLEÇÃO CACHORRINHO SAMBA

A postagem de hoje alude à coleção Cachorrinho Samba, da Editora Ática! Com os livros desta coleção, vivi momentos mágicos no período da minha pré-adolescência! Em especial os livros "A montanha encantada" e "A mina de ouro". Os livros da coleção são de autoria da brilhante Maria José Dupré, também autora do clássico "Éramos Seis"! Ainda me lembro das aventuras vividas pelos personagens pelos arredores da casa do padrinho e madrinha, os lanches deliciosos, os mistérios desvendados e a magia que se esconde atrás de uma leitura agradável e instigante. É uma boa coleção a ser indicada aos leitores que estão sendo iniciados ao universo da literatura! Vale a pena conhecer! 
A todos, meus abraços!