segunda-feira, 24 de julho de 2017

A PORTA ESTREITA

A porta estreita /La porte étroite, de André Gide. Depois de algumas indicações, resolvi aceitar o desafio de ler um clássico da literatura francesa, no idioma de origem. Uma feliz surpresa! 

Trata-se de uma narrativa muito bem encadeada, que conta com personagens minuciosamente construídos e relata de modo sensível dramas pessoais de dois jovens. Não vou fazer spoiler, mas quero dividir com meus leitores minhas impressões pessoais acerca da leitura.

Para mim, uma boa literatura é aquela que me provoca, que mexe com meus sentidos e me permite construir imagens. André Gide, majestosamente, consegue tecer uma linha narrativa envolvente, que aguça nosso lado mais puro de humanidade. É possível viver as emoções dos personagens, questionar suas condutas, irritar-se, sensibilizar-se... Cada personagem revela aspectos inesperados que mostram ao leitor o que é, de fato, o homem.

A cada nova linha um novo fato, uma nova descoberta, um desejo de seguir e buscar a próxima página, e a próxima, e a próxima, até o grande desfecho! 

A porta estreita é um daqueles livros que não podem deixar de ser lidos. Não apenas para colecionar mais uma leitura, mas para buscar entendimento acerca do que o ser humano é capaz de viver, de sentir, de se sujeitar, de propor, de fazer em nome do amor. 

No entanto, a obra dói! É uma história comovente que aborda o amor em seus aspectos mais íntimos, mais secretos, mais dúbios, mais intrigantes e mais desafiadores.

O que você faria por amor? Fica aqui o desafio da descoberta do que os personagens de A porta estreita fazem por amor!

Leitura recomendadíssima!

Meus abraços,

Wagner Dias

domingo, 16 de julho de 2017

RITA LEE - UMA AUTOBIOGRAFIA

Rita Lee - uma autobiografia, Globo Livros. Mais que uma autobiografia, é possível dizer que o texto de Rita Lee representa uma visita a um passado não muito distante, reconstruindo histórias, redesenhando momentos e colando alguns cacos que poderiam ter ficado espalhados pelo vasto  e infinito campo da memória. Rita não mediu palavras, não poupou detalhes de sua vida - bem vivida - e abordou temas que ainda são, em pleno século XXI, considerados tabus. Mas abordou sem tabus!

Sempre me questiono acerca de quem pode, ou deve, ter uma (auto)biografia. Algumas me incomodam pelo vazio de vida dos (auto)biografados. O que quero dizer com isso? Bem, quero dizer que alguns biografados deveriam guardar para si suas histórias, porque, verdadeiramente, compartilhá-las, como livro, é um exagero. Desculpem-me os que pensam de outro modo.

No entanto,  quando nos deparamos com uma história como a de Rita, chegamos a uma conclusão: sim, essa mulher viveu! Tem história para contar! Sim, isso sim, merece uma biografia! Rita é uma grande artista, e sua história, cheia de humor e conflitos, é um registro de um dos ícones da música brasileira que não pode e não deve ser esquecido, num país onde a preservação da memória é uma falácia. Sinto muito!

O livro é uma delícia! Um bate-papo com o leitor! Preciso dizer mais alguma coisa? Adorei a leitura, que fluiu rapidamente, revelando momentos da história da música brasileira, intercalados a momentos dramáticos e também felizes da história do próprio Brasil.

Contudo, não leia se seus pudores forem maiores que seu afã de liberdade! ;-)

Meus abraços!

sábado, 18 de março de 2017

UMA HISTÓRIA DE SOLIDÃO

Uma história de solidão, de John Boyne. Do mesmo autor de O menino do pijama listrado, o livro Uma história de solidão é um romance repleto de emoção, dilemas, sonhos e pés firmes na realidade. Ao abordar um dos maiores escândalos vividos pela igreja católica nos últimos tempos, Boyne expõe de modo corajoso e ousado, através de sua narrativa, a natureza humana e alguns de seus mais sórdidos dilemas. Não entrarei em detalhes para não retirar de quem pretende ler o livro a curiosidade e as surpresas apresentadas a cada capítulo. 

A narrativa que alinhava presente e passado de modo muito inteligente, leva o leitor a conhecer a vida de Odran, o personagem principal da obra. Com ele, passamos a fazer uma viagem no tempo e a refletir sobre o que o homem é capaz de fazer, como as instituições religiosas aprisionam e ao mesmo tempo libertam. Sensível e repleto de passagens ternas, é impossível que não nos sensibilizemos ao conhecer, pouco a pouco, a vida dos personagens. 

Percebemos durante a leitura um cuidado do autor ao apresentar os assuntos os quais , é notório, são frutos de intensa pesquisa e de zelo de escrita. Uma história de solidão é um dos melhores livros que li nos últimos meses. Impactante e detalhista, a obra nos posiciona no mundo e nos mostra o que os julgamentos são capazes de causar. Podemos ainda refletir, a partir da leitura, sobre as prisões que nós mesmos construímos ao nosso redor, impedindo que possa haver vida em plenitude.

Quem de nós nunca viveu uma história de solidão? E o que é a solidão? Recomendo a leitura e convido a todos a refletirem sobre fé, sobre vida, sobre razão, sobre instinto, sobre justiça, sobre dor... medo... dedicação... e amor.

A vocês, meus abraços,

Wagner Dias






sábado, 11 de março de 2017

O OLHAR DE MILO

Imagem relacionadaO olhar de Milo, Virginia Mcgregor. O que o amor é capaz de realizar? Como um neto e sua avó se relacionam, e que mistérios escondem o que chamamos de limitações? Não há limitações quando impera o amor! Esta é a máxima da obra de Virginia Mcgregor, um presente que ganhei de alunas queridas, Mariana e Júlia, e que me fizeram desestressar durante os momentos finais de construção da minha tese de doutorado! Obrigado meninas!

A leitura fluida e leve de Mcgregor, vai nos fisgando pouco a pouco, permitindo que diversos assuntos se cruzem, compondo um mosaico de imagens, de fatos, de histórias e dramas humanos. Milo, o personagem principal, consegue mostrar ao leitor como é possível superar barrerias quando se tem um objetivo. Essa foi, para mim, a grande lição: é possível realizar sonhos se conseguirmos manter o foco, literalmente, e persistirmos!

A comovente narrativa aborda, além de uma rara doença, fatos atuais como a guerra da Síria e toda a dor dos refugiados. Trata-se de uma audaciosa trama, cheia de emoção, ação e sensibilidade. E quando tudo faltar, que o amor exista em dose dupla. E quando faltarem forças, que nos lembremos de tudo o que já passamos. E quando tudo parecer escuro, que lembremo-nos das cores! E quando perdermos a esperança, que possamos reavivá-la, na certeza de que o céu é o nosso limite!

Recomendo a leitura!

Meus abraços,

Wagner Dias

AS CANÇÕES DE NINAR DE AUSCHWITZ

As canções de ninar de Auschwitz, Mario Escobar. Mais uma obra para minha coleção de leituras sobre a segunda guerra mundial. Esta com um diferencial: abordar a temática dos ciganos que também foram vítimas do Nazismo em campos de concentração. A história é baseada em fatos reais e apresenta as faces de uma mãe, suas ações e emoções em nome da defesa sua família. A obra nos apresenta também, com profundidade, a sordidez do médico Joseph Mengele e suas experiências desumanas em Auschwitz. 

O livro é repleto de passagens fortes que se mesclam com a sensibilidade instintiva de uma mãe, pronta para tudo em nome da sobrevivência de seus filhos. Música, lágrimas, dor e desespero, amor e morte, ruínas e vida reunem-se na escrita polida de Mario Escobar que ao mesmo tempo em que faz literatura também informa.

Para quem leu O diário de Anne Frank, Depois de Auschwitz, O último judeu e tantos outros que fazem parte da minha lista de leituras de guerra aqui no blog, deixo a dica para que conheçam também As canções de Ninar de Auschwitz. 

A leitura, apesar do tema, corre suavemente. O texto é bem escrito e bem cadenciado, surpreendendo o leitor a cada nova página. A cada nova leitura abordando a segunda guerra mundial e suas atrocidades, é possível conhecer o holocausto com novas lentes, novas nuances que nos dão a dimensão do que a sede de poder é capaz fazer com o homem.

Recomendo!

Meus abraços,

Wagner Dias