Eu, filha de sobreviventes do holocausto, de Bernice Eisenstein. O tema do holocausto não se esgota. A cada nova leitura, é possível perceber formas, nuances, meandros de uma história que pode e deve ser contada e recontada, sob diversas lentes e contextos. Esse contar e recontar fortifica a memória, numa tentativa de fazer com que não nos esqueçamos do ocorrido, para que algo semelhante jamais volte a acontecer.
O livro de Eisenstein não tem a cara de uma autobiografia. Trata-se de uma narrativa que enreda a vida da autora e a vida de seus pais, tendo como fio, nessa tecitura, a Segunda Guerra Mundial e toda a sua atrocidade.
A surpresa, no caso deste livro, fica por conta do modo com que se narra a vida de uma filha de pais sobreviventes do holocausto. O que é ser filha de alguém que esteve em um campo de concentração? O que sente, o que pensa, como se vê e como vê aos seus tendo essa marca tatuada na alma?
A autora, que também ilustra o livro, dá ao texto um caráter leve. Algo do tipo: "sente-se aqui que vou te contar uma história minimamente curiosa!" E assim, como bons leitores, sentamo-nos ao lado da autora e começamos a ler/ouvir sua história, mergulhando nas suas ilustrações e amenizando as dores das feridas da vida através de uma certa acidez e um humor peculiar ao texto.
Penso que esse humor tenha vínculos diretos com a alegria hassídica: mesmo onde o trágico teima em existir e se perpetuar, que tal pensarmos na vida com alegria? É mais ou menos assim que compreendi essa obra.
Seu valor, ao meu ver, não se concentra apenas no teor histórico, mas numa lição de vida. O que fazemos de nossas vidas, como lidamos com nosso passado, como são nossas relações com os outros e com o nosso mais íntimo pensamento? Quem somos? Acho que essa é a grande pergunta que me fiz ao terminar o livro: quem sou? De onde venho? Por que tenho esse nome? O que de mim, hoje, é reflexo do meu eu de ontem?
E assim, busco plenitude no agora, deixando o porvir me surpreender, como tem sido nos meus 39 anos de vida!
Recomendo a leitura!
A todos, meus abraços.
Wagner Dias.