domingo, 27 de dezembro de 2015

EU, FILHA DE SOBREVIVENTES DO HOLOCAUSTO

Eu, filha de sobreviventes do holocausto, de Bernice Eisenstein. O tema do holocausto não se esgota. A cada nova leitura, é possível perceber formas, nuances, meandros de uma história que pode e deve ser contada e recontada, sob diversas lentes e contextos. Esse contar e recontar fortifica a memória, numa tentativa de fazer com que não nos esqueçamos do ocorrido, para que algo semelhante jamais volte a acontecer.

O livro de Eisenstein não tem a cara de uma autobiografia. Trata-se de uma narrativa que enreda a vida da autora e a vida de seus pais, tendo como fio, nessa tecitura, a Segunda Guerra Mundial e toda a sua atrocidade. 

A surpresa, no caso deste livro, fica por conta do modo com que se narra a vida de uma filha de pais sobreviventes do holocausto. O que é ser filha de alguém que esteve em um campo de concentração? O que sente, o que pensa, como se vê e como vê aos seus tendo essa marca tatuada na alma? 

A autora, que também ilustra o livro, dá ao texto um caráter leve. Algo do tipo: "sente-se aqui que vou te contar uma história minimamente curiosa!" E assim, como bons leitores, sentamo-nos ao lado da autora e começamos a ler/ouvir sua história, mergulhando nas suas ilustrações e amenizando as dores das feridas da vida através de uma certa acidez e um humor peculiar ao texto. 

Penso que esse humor tenha vínculos diretos com a alegria hassídica: mesmo onde o trágico teima em existir e se perpetuar, que tal pensarmos na vida com alegria? É mais ou menos assim que compreendi essa obra. 

Seu valor, ao meu ver, não se concentra apenas no teor histórico, mas numa lição de vida. O que fazemos de nossas vidas, como lidamos com nosso passado, como são nossas relações com os outros e com o nosso mais íntimo pensamento? Quem somos? Acho que essa é a grande pergunta que me fiz ao terminar o livro: quem sou? De onde venho? Por que tenho esse nome? O que de mim, hoje, é reflexo do meu eu de ontem? 

E assim, busco plenitude no agora, deixando o porvir me surpreender, como tem sido nos meus 39 anos de vida!

Recomendo a leitura!
A todos, meus abraços.
Wagner Dias.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

O TREM DOS ÓRFÃOS

O trem dos órfãos, de Christina Baker Kline. Realidade e ficção dão o tom dessa narrativa. A partir de uma realidade vivida por crianças na década de 1930 - crianças órfãs, transportadas por trem, através dos Estados Unidos da América, teceu-se uma rede que consagra o diálogo entre presente e passado, fazendo com que o leitor reflita sobre as possibilidades de futuro. 

Christina Baker Kline tem uma escrita fina e sabe como enredar os assuntos, épocas e personagens. O livro que conta a história de Molly (2011) e Vivian (década de 1930 a 2011) permite ao leitor montar as peças de um belíssimo quebra-cabeças.

O mote é genial. O texto é doce, leve e sensível. A leitura é fluida e instigante. O mais marcante, talvez, seja a concepção de destino abordada pela autora. Como num livro, como em seu próprio livro, as coisas da vida se enredam magicamente. 

Dor, amor, solidão, resiliência, resignação, força são algumas das palavras que poderiam definir esta obra. Recomendo o livro para quem gosta de boas histórias e pretende, a partir delas, repensar a sua própria construção histórica. 

O futuro neste livro, é uma incógnita. Talvez de modo proposital. Passamos a vida pensando em futuro e, de repente, quando lemos histórias de quem mal consegue viver o presente, sem vislumbrar um dia a mais, conseguimos dar conta de que viver bem o presente pode ser uma boa alternativa para uma vida harmoniosa. Ainda que esta harmonia seja consigo mesmo.

O trem dos órfãos é sensibilidade do início ao fim!

Lindo livro! 

A todos, meus abraços.
Wagner Dias.