domingo, 22 de novembro de 2015

PARA SEMPRE ALICE

Para sempre Alice, de Lisa Genova. Se há uma palavra que possa definir esta leitura, tal palavra é sensibilidade. Que o livro aborda o Mal de Alzheimer não é nenhum segredo. O que quero dizer é que a forma como a doença é retratada é que nos toca. 

O livro é muito bem escrito, numa sequência cronológica que nos apresenta, paulatinamente, o drama de Alice Howland, professora universitária que aos 50 anos de idade, descobre ter a doença já citada. 

A autora soube descrever com detalhes toda essa trajetória, através de um texto fluido e direto que está mais interessado em mostrar como é a vida de quem sofre com a doença e a vida de quem circunda esse doente. Tudo isso sem estereótipos e sem a linguagem fria e seca da ciência. 

Embora eu tenha lido uma tradução, a forma com que a escrita se constrói nos dá uma pequena prévia do que é não conhecer alguém, do que é saber o que se quer falar e não conseguir articular as palavras. É possível perceber que a perda da consciência, da memória, tende a nos desestabilizar e a nos colocar à margem do mundo.

Trata-se de uma bela reflexão sobre o hoje e o tempo que temos, mais que uma preocupação com o tempo que nos resta. Uma lição de vida. Lição de vida presente! Alice consegue viver cada minuto de sua vida da melhor forma possível, mesmo convivendo com a demência.

É impossível ler este livro sem se comover. Em algumas partes, lendo em voz alta, confesso ter chorado. Tentei me colocar no lugar de Alice e, com essa tentativa, um mundo se desvela. O mundo do viver da melhor forma possível a vida, antes que sejamos surpreendidos pelo passar do tempo ou antes que sejamos acometidos por algum mal. 

Li o livro que tem a capa do filme... (Sim, este livro virou filme!). Isso, infelizmente, me irritou muito, pois não tive liberdade de construir imageticamente a minha Alice, com base nas descrições da autora, descrições essas que nada têm a ver com a foto da atriz que interpretou Alice no cinema. 

Acho uma falha brutal das editoras publicarem obras literárias com capas de filmes, quando essas capas nos revelam rostos, e detalhes que, enquanto leitores, gostaríamos de descobrir pelas palavras. Vou colocar aqui a foto original do livro, que para mim é muito mais significativa e bela.

Recomendadíssimo! 
Meus abraços,
Wagner Dias

O PINTASSILGO

O Pintassilgo, de DonaTartt. Trata-se de um extenso romance (719 páginas em Português / Companhia das Letras) que a partir de reflexões sobre o que é a obra de arte apresenta uma junção de elementos que se enredam para construir a história de Theo Decker, o personagem principal da narrativa.

A história prende o leitor e, talvez, esta seja uma das habilidades de Tartt. Por mais prolixa que seja a obra, o leitor se vê dependente da leitura, desejando saber qual será o próximo evento, que destino está reservado ao protagonista. Claro que essa prolixidade se torna excessiva no decorrer da narrativa e, confesso, provoca um certo cansaço. Mas a autora mantém sua linha de escrita até o final. 

Embora seja um texto delicado, com escrita requintada, eu não o classificaria como um clássico, como foi considerado por alguns críticos. Também não sei o porquê deste livro ter ganho o prêmio Pulitzer. Acho que não é para tanto. Contudo, o que me encantou na obra foi a delicadeza das imagens construídas por Tartt. Não me pareceu um livro de inspiração pura. Pareceu-me uma obra pensada, com roteiro de escrita construído, o que o leitor poderá perceber com o desfecho da obra. Tartt é genuína ao demonstrar com detalhes, conhecimento sobre arte, música, informações que ampliam horizontes para o leitor.

Acho que a logística de construção de Theo Decker, o protagonista, é muito coerente e o final da obra cumpre com o que a narrativa apresenta a cada página virada. Para quem se incomoda com leituras que abordam o submundo das drogas, é  preciso que saiba que O Pintassilgo apresenta este universo em minúcias, com uma clareza tão evidente que chegamos a pensar que, ou a autora usou as drogas que aparecem na obra, ou fez um brilhante trabalho de pesquisa para construir seu livro. 

A narrativa surpreende. Dona Tartt sabe como dar reviravoltas na história e quando o leitor começa a imaginar um destino, ou desfecho, ela vira o jogo, a mesa, coloca outras cartas na jogada e outra curiosidade se inicia. 

É um bom livro. Embora eu não o considere um clássico. Algumas passagens são cinematográficas e parecem ter sido construídas para a lente de uma câmera e não para as páginas de um livro. Isso não desmerece em nada o poder criativo da autora.

Portanto, se você se encorajar a encarar as 719 páginas de O Pintassilgo, no mínimo você viverá fortes emoções!

Meus abraços,
Wagner dias