Depois de um tempo afastado do blog, tempo este no qual me dediquei a questões pessoais e li textos e obras de caráter científico, resolvi reinaugurar nosso diário de leituras com a obra Le Peintre d'Aquarelles (O pintor de aquarelas), de Michel Tremblay, que li nos meus momentos de folga entre dezembro e janeiro de 2018. Embora o livro tenha poucas páginas, ler em outro idioma - Francês - é sempre um desafio e é preciso atenção para que não percamos nenhum detalhe que pode estar oculto em imagens e expressões idiomáticas de uma outra cultura.
Le peintre d'aquarelles é um romance canadense (québécois) surpreendente. Minha primeira impresão foi a de estar lendo algo muito convencional, ideia que se desfez em poucas páginas, à medida que comecei a me envolver e refletir sobre a vida de Marcel, personagem principal da narrativa. Se não bastasse nosso personagem principal receber a visita da mãe morta e de um gato imaginário (a contracapa revela essas informações), o autor ainda nos premia com imagens textuais e poéticas incríveis, muito bem construídas, que mostram como é possível, através da arte, pintar com palavras lugares, coisas, formas, pessoas nunca antes vistos.
Eu ousaria dizer que o autor é sagaz, criativo e que conhece bem o processo de construção de um enredo, uma vez que prende a atenção do leitor, permite reflexões e emoções diversas, a ponto de nos perguntarmos: e se fosse comigo? Seria eu assim? O que eu faria nesta situação? A cada parte lida, a cada frase, a cada revelação, Tremblay nos apresenta sua pintura literária: uma história de vida. Esta história nos leva a indagar o que é a felicidade e o que somos capazes de viver e fazer para a encontrarmos.
Quando imaginamos que a história ruma para um desfecho convencional, o autor remexe toda a trama e nos surpreende com um final memorável, daqueles que nos obrigam a revisitar a obra e repensar em tudo o que foi lido.
A epígrafe, de antemão, já nos alerta a viver intensamente para que não tenhamos que reconhecer a felicidade quando ouvirmos o barulho de sua partida ("J'ai reconnu le bonheur au bruit qu'il a fait en partant." Jacques Prévert)
Foi uma surpresa feliz descobrir a obra de Tremblay. Vale muito a leitura! Recomendadíssima!
A vocês, meus abraços,
Wagner Dias.