quinta-feira, 25 de junho de 2015

EU SOU O ÚLTIMO JUDEU

"Eu sou o último judeu", de Chil Rajchman. Antes de qualquer palavra: um documento histórico. Um relato minucioso das atrocidades cometidas contra milhares de judeus no campo de extermínio de Treblinka (Polônia), no período de 1942 a 1943. Como já deixei claro em outras postagens, o tema da segunda guerra mundial me atrai de modo peculiar. Como acredito em outras vidas, penso ter ter algum elo com esse período. 

Tenho por mania acompanhar as leituras sobre o assunto em foco, sejam elas biografias, textos literários e qualquer informe que me acrescente dados e amplie o meu entendimento do que foi o holocausto. Talvez minha esperança seja, em algum momento, achar um livro, uma frase que me diga: isso não aconteceu! Foi só um pesadelo! Contudo, o horror foi real e o lema de contar, relembrar para que não mais aconteça deve ser diariamente pronunciado. 

O livro de Rajchman, em especial, trouxe-me sensações inusitadas. Primeiro pelo detalhe e zelo nas descrições, que permitem ver claramente, toda a dor e todo o pesadelo vivido pelos judeus no campo de extermínio de Treblinka. Campo de extermínio. Pensar nessas palavras pode nos tocar, causar comoção. Ler em detalhes um relato de um sobrevivente, traz à tona o horror, o medo e o pensamento: como o homem pode ser capaz de ser tão atroz em seus crimes motivados pelo desejo de poder? 

As passagens desta obra são realmente muito fortes. Confesso que cheguei a sonhar com algumas cenas. Refiro-me especialmente às cenas dos dentistas, que, quem ler a obra, poderá compreender em detalhes o porquê de minha angústia. O livro angustia, mas não se consegue deixar de ler. Acredito ser a atração que os sortilégios da morte (lembrando-me de Consoada, de Manuel Bandeira) provoca. A cada novo capítulo, passamos a torcer para que algo de bom ocorra. Vivemos juntos o drama dos judeus de Treblinka. Derramamos juntos as lágrimas, sentimos a dor das chicotadas, o cheiro de morte.

Mas não se assustem com meu relato. São minhas impressões. O livro é muito bom e recomendo sua leitura. O prefácio é muito elucidativo e, acredito, deve ser lido com atenção. No mais, Eu sou o último judeu, é um relato doloroso e cruel de uma face de nossa história que dificilmente será esquecida!

A todos, meus abraços!
Wagner Dias.


sexta-feira, 19 de junho de 2015

DOIS GAROTOS SE BEIJANDO

Dois garotos se beijando, de David Levithan. Este livro estava em uma das prateleiras de leituras destinadas a jovens. Como sou educador, lido cotidianamente com jovens e não excluo nada que possa ser lido da minha vida, acabei me deixando seduzir pela capa da obra em questão. Uma das mais lindas capas que tenho em minha biblioteca. Dois rostos de garotos selando um beijo, num projeto gráfico muito interessante, singelo e poético. A leitura é suave e fluida. Os narradores guardam um segredo que não revelarei, mas que posicionam o leitor, trazendo-o para as reflexões mais duras, porém necessárias no mundo diverso da contemporaneidade.

O livro aborda relações homoafetivas, a beleza do amor entre pessoas do mesmo sexo, os dramas, os medos, o entendimento social sobre o assunto... tudo isso de modo muito delicado, o que não significa ser tratado de um modo leve. Há acidez em determinadas passagens, mas essa acidez é necessária para construir um emaranhado de situações que exigem um tom mais incisivo! O mote: bater o recorde mundial de beijo. Na obra, isso ocorre como forma de protesto! Realmente é possível que o leitor se envolva com as diversas situações e entre na torcida pelo sucesso dos casais e de todos os personagens. Histórias se entrelaçam! Esqueci de comentar! 

Eu não poderia dizer que o final é surpreendente. Na minha singela opinião, não o é. Mas isso é questão de gosto. Numa análise fria, é possível dizer que o autor deu ao seu texto um final digno e necessário. Nem sempre as coisas são como queremos, como escreveríamos, assim como na vida! Mas acho que ficou um desejo de saber um pouco mais! 

Trata-se de uma boa leitura para jovens, leitura essa que, se bem mediada, no contexto escolar, por exemplo, pode, além de ser caminho para a introdução ao universo literário, uma fonte  de debates. A obra se propõe a isso. 

Assim, se você deseja conhecer um universo novo, se você simpatiza com a causa homoafetiva e se você tem coragem de enfrentar o novo, examinando-o com um olhar sereno e livre de preconceitos, leia Dois garotos se beijando. Se não estiver nesta lista de pré-requisitos, leia também. Você precisa ampliar seus pensamentos e sua visão de mundo! ;-) 

A todos, meus abraços!
Wagner Dias 

quarta-feira, 3 de junho de 2015

OS LARGADOS

Os largados, do italiano Michele Serra, é uma leitura surpreendente, terna e ácida. Trata-se do debate entre gerações, sua complexidade e seus constrangimentos. No entanto, diferentemente de outras obras que tratam deste tema, Serra consegue, com uma espécie de humor ácido, prender a atenção do leitor, o qual se identifica ora com o pai rabugento da narrativa, ora com o jovem filho. 

Da lágrima ao riso, Serra consegue discutir o tema do conflito de gerações, criando uma guerra fictícia entre velhos e jovens, que, para mim, é uma das partes mais interessantes e sensíveis da obra. Não contarei o final desta guerra, claro, mas posso garantir que este é um momento repleto de imagens tocantes e também poéticas. 

O livro permite ao leitor revisitar a própria existência de modo a criar reflexões sobre como lidar com outras gerações. A falha está neles ou em nós? A falha é dos jovens ou dos velhos? Dos velhos ou dos jovens? Qual o limite desse dilema? Em que consiste a vida em família? 

Como eu não conhecia nada deste autor, fiquei surpreso com o estilo de escrita, que é bastante criativo, inusitado e que mescla dor e prazer, tristeza e alegria, acidez e doçura em frases simples. Na verdade, a história é simples, é cotidiana. O que dá ao livro o frescor da novidade é a estrutura narrativa.

Trata-se de uma excelente leitura para pais, mães, filhos, filhas, professores, professoras, alunos, alunas...jovens e maduros! E que a arte do encontro se faça na simplicidade!

Recomendo! :-)

Meus abraços,

Wagner Dias